SEGUINDO EM FRENTE

Quando eu era pequeno pensava que minha família duraria para sempre. Na puberdade vi que estava enganado. Mas, apesar disso, segui em frente.

Quando comecei a tocar pensava que se eu estudasse e me dedicasse bastante eu seria um bom profissional, teria trabalho sempre, ganharia dinheiro e seria reconhecido por isso. Mas o tempo passou e vi que a coisa não funciona muito bem assim. Mas segui em frente.

Quando eu era adolescente eu achava que o 1º amor duraria para sempre. Obviamente eu estava enganado, mas segui em frente.

Quando comecei a compor e gravar com minhas bandas pensava que se eu fizesse música vinda do coração, honesta, com conteúdo e verdadeira, ela teria espaço e alcançaria o coração e mente das pessoas; que haveria espaço pra divulgação de minha arte e que ela chegaria às pessoas, fazendo-as pensar, refletir e sentir. É claro, eu estava enganado. Mas segui em frente.

Quando eu era jovem eu realmente acreditava que os partidos de esquerda mudariam o país. Mas o tempo passou, eu estudei muito por mim mesmo e vi que nem esquerda nem direita querem saber de mim, de você ou de qualquer outro cidadão. Vi que o sistema político e econômico existentes há muito tempo têm propósitos escusos e funcionam através da escravização voluntária da população. Mesmo assim, segui em frente.

Quando eu comecei a atuar como músico nas bandas de outros artistas pensava que seria tratado decentemente, como um profissional, de acordo com minha experiência, formação e valor profissionais. Ao contrário, enfrentei intrigas de pessoas inseguras, fui traído por “colegas” que queriam colocar outras pessoas da “panela” deles no meu lugar, e fui maltratado, pelas costas, por pessoas que, pela frente, sorriam quando me encontravam. Mas, por algum motivo, segui em frente.

Quando tive escola de música vi que até aqueles que aparentemente me tratavam bem, na verdade falavam mal pelas costas, porque me viam como concorrente, e não como colega. Apesar disso, segui em frente.

Quando empresários e produtores me roubavam pelas costas, pensando que eu nunca saberia, eu continuei fazendo minha parte. Segui em frente.

Escrevi textos e matérias pra várias mídias e, mesmo sendo tratado com desdém, não-pago, iludido com promessas e nem recebendo exemplares das edições pras quais eu havia contribuído, eu segui em frente.

Passei anos escrevendo livros, de 1989 a 2011. Um curso completo pro aprendizado de bateria, com oito volumes cobrindo praticamente tudo o que um baterista deve saber ao se encontrar numa situação musical, seja profissional ou amadora. Ao tentar editá-lo ouvi das editoras absurdos como “os livros são muito completos, não podemos editá-los” ou “queremos livros fininhos e específicos, que vendem mais e nos geram mais lucros e menos custos”; uma versão “fast food” implementada na didática musical. Ainda sim, segui em frente.

Quando eu fui patrocinado por uma indústria musical pensei que era pelo meu valor como profissional, e pelo o que a associação do meu nome à marca traria de benefício pra ambos os lados. Aí a representante da empresa desapareceu – estava sempre “em reunião” e nunca retornava meus telefonemas ou emails. Mesmo assim tomei isso como uma lição e segui em frente.

Poderia dar mais dezenas de exemplos aqui, mas o que importa mesmo é a lição que tirei disso tudo:

VOCÊ TEM QUE SEGUIR EM FRENTE E FAZER O SEU MELHOR.

Se existem outras pessoas que não te valorizam por você fazer as coisas certas, por você não ser falso, por falar o que pensa, por ficarem com inveja por elas não conseguirem ser assim – isso não deve afetar sua integridade.

Ela vale infinitamente mais do que qualquer comportamento “político”, “tapinha nas costas”, “bajulação oportuna” ou algo parecido, pois sua integridade define quem você é.

Quem tem integridade sabe o próprio valor; entende o preço que já pagou e ainda vai pagar para mantê-la intacta, por mais que seja doloroso o caminho.

Quem tem integridade vai deitar a cabeça no travesseiro sabendo que durante o dia fez o melhor pra si e pros que os rodeiam, eles merecendo ou não.

E, em última instância, quem é íntegro tem paz interior – e isso não tem preço.

E é por isso que eu vou continuar, sempre, seguindo em frente.

Texto de André Gonzales. (Facebook)

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